Mostras paralelas, que abrem em 26 de agosto durante a semana da SP-Arte Rotas, exploram temas como inteligência artificial, pertencimento e memória

Biastiário: matriz das malícias. Crédito: Zipper Galeria/ Divulgação
A Zipper Galeria inaugura no dia 26 de agosto duas exposições individuais com pesquisas que ampliam debates em torno da tecnologia, da interioridade e das formas de existência. Em cheguei, cheguei. lar, lar, lar., Ivan Grilo investiga, com base na meditação Thich Nhat Hanh, o habitar como estado de presença e consciência na atualidade. No andar superior da galeria, Biastiário: matriz das malícias , Fernando Velázquez aprofunda sua pesquisa com inteligência artificial ao integrar novos eixos: o pós-humano, o pós-orgânico e o pós-ecológico. As estreias coincidem com a semana da quarta edição da SP–Arte Rotas, um dos períodos de grande movimentação do circuito cultural da cidade.
Em cheguei, cheguei. lar, lar, lar. Ivan Grilo apresenta uma exposição que nasce de um ritmo respiratório. Inspirada em uma meditação de Thich Nhat Hanh, a individual não se trata apenas de moradia, mas de um espaço onde a vida se pacifica, uma geografia íntima onde a respiração se assenta.
As fotografias que compõem a exposição revelam uma sequência simbólica de contato, ascensão, transcendência e, finalmente, o lar enquanto espaço sagrado e mental. Uma placa em ouro maciço encerra a experiência, provocando uma reflexão sobre o que garante a permanência das palavras, o suporte material ou a sua significação íntima.
Segundo Natália Lage, autora do texto curatorial: “as demandas por eficiência, utilidade e resultados palpáveis tem nos feito – a todos nós – reféns de um sistema que promete equilíbrio enquanto dissimula não estar em colapso. Para referências que comprovem esse fato, basta olhar para o lado: desigualdades, sobretudo em nosso país; guerras infantis entre gente grande de grandes nações; e projetos bem forjados de obsolescência programada pelas grandes corporações tecnológicas, sustentando um vertiginoso e crescente desperdício de recursos e um consumo excessivo. Isso sem falar na profusão de mecanismos de alienação, que vão dos remédios às redes sociais. Perdeu o ar? Pois bem, o objetivo é mesmo este. “cheguei, cheguei. lar, lar, lar.” é um convite à respiração, ao fugidio momento presente, tão sucateado pelas pressões externas”.
colapso futuro e tecnologia
Na sua quinta individual na Zipper Galeria, Biastiário: matriz das malícias, Fernando Velázquez aprofunda sua pesquisa com inteligência artificial ao integrar os eixos: o pós-humano, o pós-orgânico e o pós-ecológico. O título funde as palavras bias (viés, em inglês) e bestiário — livros medievais que reuniam imagens de criaturas fantásticas usadas como material pedagógico.
A mostra propõe um futuro em que biosfera e tecnosfera colapsam, e carne, silício e glitch se tornam indistintos. As imagens, geradas por IA, dialogam com a história da arte e sugerem um neoclassicismo reconfigurado, como se fossem vestígios encontrados nas ruínas de uma civilização extinta. Instalada como se fosse uma capela, com imagens cobrindo paredes e teto, a exposição convoca a refletir que novas formas de existência estamos inadvertidamente gerando.
Dois outros núcleos compõem a mostra: três blocos de chumbo com tipos móveis e um vídeo interativo. Os blocos contêm frases e poemas curtos, prolongando uma prática textual recorrente do artista. Dizeres como “Assistido por IA” ou “A obra de arte na era da estocástica algorítmica ativam ecos benjaminianos sobre técnica e reprodução, enquanto a materialidade do chumbo evoca um passado gráfico que aqui se comporta como dataset ancestral.
O vídeo é composto por mais de mil imagens exibidas em alta velocidade, formando uma névoa perceptiva quase ilegível. Um pedal interativo permite ao visitante interromper esse fluxo e explorar frame a frame, como quem dissipa uma alucinação. A obra traz percepção, tempo e agência, entre o gesto maquínico e o olhar contemplativo.
A exposição condensa vetores centrais da trajetória de Velázquez: técnica como modeladora da subjetividade e da sensibilidade; à aceleração da percepção; a materialidade invisível do digital; as agências compartilhadas entre o humano e a máquina; e o papel da ficção na construção de futuros.
Em meio ao sequestro algorítmico da imaginação, Biastiário: matriz das malícias cria um espaço ambíguo que recusa tanto distopia quanto utopia. Ao friccionar corpo e sistema, sujeito e técnica, reflete, assim, sobre o que restará de humano quando a tecnologia se torne espécie, e nós, apenas sua memória residual.
Serviço:
Exposição: cheguei, cheguei. lar, lar, lar.
Artista: Ivan Grilo
Local: Zipper Galeria
Endereço: Rua Estados Unidos, 1494 – São Paulo, SP
Abertura: 26 de agosto de 2025, 18h
Período expositivo: 27 de agosto a 4 de outubro de 2025
Horário: de segunda a sexta 10h–19h e aos sábados 11h–17h
Local: Zipper Galeria – Rua Estados Unidos, 1494 – São Paulo, SP
Gratuito
Mais informações: zippergaleria.com.br | @zippergaleria
Serviço:
Exposição: Biastiário: matriz das malícias
Artista: Fernando Velázquez
Local: Zipper Galeria
Endereço: Rua Estados Unidos, 1494 – São Paulo, SP
Abertura: 26 de agosto de 2025, 18h
Período expositivo: 27 de agosto a 4 de outubro de 2025
Horário: de segunda a sexta 10h–19h e aos sábados 11h–17h
Local: Zipper Galeria – Rua Estados Unidos, 1494 – São Paulo, SP
Gratuito
Mais informações: zippergaleria.com.br | @zippergaleria
Fonte: Cor Comunica