Atualmente se fala muito em empreender, afinal é uma forma de conquistar sonhos e encontrar o seu propósito – o que faz o seu coração vibrar. O empreendedor é aquele que coloca as ideias em prática, por mais difíceis ou trabalhosas que elas sejam. É um contraponto, uma vez que assume riscos, mas ao mesmo tempo, inova no modo de pensar e agir.
Em tempos de crise econômica, que é acompanhada do desemprego, muitos enxergam como solução começar a empreender e criar suas próprias oportunidades. Segundo a GEM, a taxa de empreendorismo total (TTE/2018) foi de 38%, ou seja: em cada cinco brasileiros adultos, dois são empreendedores. Estima-se que aproximadamente 52 milhões de brasileiros entre 18 e 64 anos estão à frente de alguma atividade empreendedora. E na dança não poderia ser diferente, seja na criação de escolas e companhias de dança, cursos digitais, escritórios de advocacia; contabilidade ou de comunicação, especializados em arte e cultura.
No entanto, Flávio Freitas – diretor de produção da Artesofia Produção Cultural e fundador do Instituto Sociocultural Sergei Diaghilev – explica que é preciso desenvolver um modelo de empreendorismo nas artes em geral, principalmente na dança. “Não há como ter sucesso sem fazer um planejamento estratégico de negócios para qualquer tipo de trabalho, seja ele amador ou profissional. As primeiras perguntas que devem ser respondidas são: Como? Quando? Onde? Por quê?”
O planejamento estratégico é uma ferramenta que amplia a visão da micro e/ou pequena empresa. A partir da missão – razão de existir do seu negócio – o planejamento permite avaliar as suas necessidades: definir o capital de investimento; analisar os concorrentes; pesquisar e compreender o nicho de atuação; mapear as ameaças futuras que podem aparecer durante a trajetória, além de segmentar de forma clara e objetiva quais são as suas forças e fraquezas.
No caso da dança, é preciso ter um modelo estratégico que conduza as diretrizes de uma escola e/ou companhia de dança. “Observo que as companhias mais antigas no Brasil acabaram aprendendo isso na prática. Vejo que em tempos de crise estes núcleos artísticos são extremamente afetados, pois ainda estão engessados em arcabouços burocráticos de políticas públicas. Sem um plano B não há o que fazer em tempos de crise. Mas quando se estabelece um planejamento estratégico, percebemos que as companhias conseguem ser sustentadas por um número maior de projetos e não somente por um único espetáculo que será concebido.”, pontua Flávio.
Ele explica que no caso da Ícaro Companhia de Dança, fundada e fomentada pela Artesofia Produção Cultural, há uma definição clara dos objetivos que a Companhia deseja atingir em um panorama de cinco anos de gestão. Anualmente – em meados de junho – já definem quais serão os projetos artisticamente concebidos para o ano posterior. Cada espetáculo coreográfico se torna um projeto e a partir dessa premissa conseguem analisar quais serão os inscritos em leis de incentivo e os que serão concebidos por iniciativa própria e/ou privada.
As leis de incentivo são financiamentos por meio de renúncia fiscal, ou seja: a federação, estado ou município abrem mão dos recursos de impostos que são revertidos em projetos culturais.
Vale lembrar
Na Lei de Incentivo à Cultura (antiga Lei Rouanet/federal) quem define quais projetos serão patrocinados são as próprias empresas, que utilizam seus impostos como abatimento das cotas adquiridas no projeto. Antes de começar a captação do valor aprovado, o proponente deve inscrever o seu projeto – entre fevereiro e novembro – no Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic) e, posteriormente, a Secretaria Especial de Cultura analisará o material enviado. Caso seja admitido, inicia-se então o processo de captação de recursos incentivados.
No caso dos projetos de incentivo e/ou editais estaduais, por exemplo o PROAC ICMS e edital PROAC nº 03, nº 04, há uma comissão julgadora para a seleção de cada material enviado. A inscrição ocorre pela plataforma de projetos da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e o período de inscrição acontece, geralmente, entre abril e agosto de cada ano.
Os editais também podem ter cunho municipal e são publicados no site da Secretaria Municipal de Cultura com fins específicos de produção e circulação de espetáculos, tais como: PRO-MAC/ Incentiva SP, Programa Municipal de Fomento à Dança (inscrições entre setembro e outubro), dentre outros.
Dicas do especialista
Apesar de existir diversas leis de incentivo no Brasil é fundamental planejar o direcionamento do negócio para saber qual rumo tomar. Flávio comenta que o brasileiro é muito criativo e deveria levar este movimento para a gestão das empresas. “Gerir em situações de crise é saber se reinventar a cada momento. Ter a coragem para mudar as direções, buscar novas alternativas e, principalmente, acreditar na força da realização dos seus sonhos”.
Algumas dicas que ele nos deixa:
– Elabore um planejamento estratégico de negócios. Você conseguirá ver o todo e será mais fácil tomar decisões futuras;
– Tenha em mente que um patrocinador não irá aportar em seu projeto pois você o considera “maravilhoso”. É preciso criar métricas de realização. Não desista da captação de recursos. Serão muitos “não” até chegar o “sim”;
– Tenha histórico de apresentação do seu núcleo artístico ou trabalho na arte. Parcerias com espaços públicos é uma das opções;
– A chave para o sucesso de uma ideia é pensar em um modelo de gestão onde seja possível o empreendorismo nas artes; onde a dança tenha condições efetivas de produzir recursos e não seja apenas como uma formação de plateia gratuita. É preciso ver além;
– É fundamental ser persistente e não desistir. As dificuldades vão surgir, mas é preciso “nadar” contra a maré;
– Busque parcerias com pessoas que acreditem em você e em seu potencial. Afaste-se daquelas que vão contra isso.
Por Patrícia Marrese